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O Sionismo é um direito


Originalmente publicado em 01/07/2015, no Conexão Israel


“Sou contrário ao nacionalismo, mas estou a favor do sionismo.”

A frase citada acima é de Albert Einstein, em 1919. O famoso físico judeu alemão, ao mesmo tempo, opôs-se à visita do então ativista sionista Menachem Begin aos EUA em 1948, e emprestava seu nome e prestígio à Universidade Hebraica de Jerusalém. Einstein negava o nacionalismo como uma ideia geral, mas era um entusiasta do sionismo. Podemos compreender a frase citada como mais um produto da retórica do pilpul judaico (quem nunca escutou a expressão: “dois judeus, três opiniões”?), ou analisá-la profundamente, e perceber que ela pode fazer total sentido. Convido o leitor a fazê-lo junto a mim.


O sionismo já foi alvo de inúmeras (e infelizes) analogias: tratado como sinônimo de imperialismo, comparado a racismo, e até mesmo considerado genocida, o sionismo não é essencialmente nada disso. O significado negativo atribuído a tal conceito é, algumas vezes por ignorância, outras por má fé, confundido equivocadamente com sua própria essência. Isto, na maioria das vezes, prova-se uma grande injustiça, e incoerência por parte da maioria dos que o fazem.


Antes de tudo, definamos o conceito: sionismo nada mais é do que a realização do princípio de autodeterminação dos povos pela nação judaica. Sim, caro leitor. Nação judaica. O judaísmo sempre foi uma nação, ao longo de toda a sua história. O conceito de nação se modificou bastante desde a época do Rei David até os dias de hoje, mas uma constante prevalece: os judeus sempre se enquadraram nela.


Os judeus foram uma nação durante a época do seu reinado, e quando estiveram sob domínio babilônio, persa, helenista e romano. Não deixaram este status no norte da África, na Península Ibérica e na Península Arábica, sob domínio muçulmano, tampouco na Europa cristã medieval. Por mais que os conceitos de Estado nacional e cidadania não existissem tal qual hoje em dia, os judeus não gozavam dos mesmos direitos que os povos que dominavam tais regiões. A situação não mudou durante a modernidade. Só durante um momento da história houve uma discussão se o judaísmo de fato era uma nação ou apenas uma religião, restringida ao âmbito privado da escolha individual: a conjuntura que se sucedeu após a Revolução Francesa. Foi oferecida aos judeus a possibilidade de inserir-se a nações estrangeiras, abdicando do judaísmo como nacionalidade. Deste momento entra em vigor a questão judaica.


Parte dos judeus decidiu emancipar-se, apostar na filosofia “judeu em casa, cidadão na rua”, e transformar o judaísmo apenas em uma religião. O problema que demanda desta decisão foi o surgimento do antissemitismo nacional. Ao judeu sempre pairam as dúvidas: em uma guerra entre França e Alemanha, o judeu combateria outro judeu? Por que mesmo os judeus emancipados resistem a matrimônios com não judeus? O judeu realmente tem fidelidade à pátria não-judaica? O resultado de tal desconfiança foi a perseguição aos judeus de ponta a ponta da Europa: dos pogroms na Rússia e na Europa Oriental, tratando os judeus como culpados pelos males da nação, ao Caso Dreyfus e casos similares na França e na Europa Ocidental, demonstrando a recusa em receber os judeus como verdadeiros cidadãos.


Os problemas que afetaram a esta parcela do povo judeu, que optou por emancipar-se e não foi realmente aceita como esperavam, compõem apenas metade da questão judaica. A outra metade emana da parte dos judeus que se recusaram a aceitar outra nacionalidade, reafirmando o judaísmo como sua identidade nacional. Este grupo se divide em três: o primeiro, dos judeus religiosos, que fecharam-se ainda mais para evitar as influências da modernidade, negando-se ao contato tanto com a sociedade maior quanto com judeus liberais. A este movimento chamamos ultra-ortodoxia judaica. O segundo foi de um grupo de judeus socialistas que exigiam o status de minoria nacional nos países onde viviam, uma vertente do austro-marxismo[ref]Teoria desenvolvida principalmente por Otto Bauer, Karl Renner e Max Adler, de que só as nações divididas a princípio, com autonomia cultural, chegariam à revolução socialista.[/ref], e chegaram a criar um partido em todos os países onde se encontravam: o Bund. A história do Bund tem um final extremamente infeliz: perseguido pelo stalinismo e exterminado pelos nazistas, sucumbiu ao terceiro grupo sobre o qual falaremos: os sionistas. Um grupo de judeus que reafirmou o judaísmo como nacionalidade, e reivindicou um Estado nacional.


O sionismo, portanto, surgiu como uma possibilidade de resolução da questão judaica. Os judeus buscavam uma forma de continuarem sendo judeus em sua plenitude, sem sofrer antissemitismo e gozando de todos os seus direitos. Criando-se um Estado para o povo judeu, onde o judaísmo fosse uma nacionalidade, o antissemitismo nacional não existiria. O sionismo é um movimento libertador, de independência do povo judeu, justamente o contrário de racismo, imperialismo e muito menos genocídio. São os judeus exercendo o seu direito ao princípio de autodeterminação como povo.


Os judeus são uma nação a partir do momento em que se veem como uma. Quando os antissemitas enxergam os judeus da mesma forma, facilita-se muito a autodeterminação: negar direitos aos judeus, ou desconfiar de sua fidelidade ao Estado é praticamente empurrá-los à sua autodeterminação. Isso foi basicamente o que aconteceu na história recente judaica. O sionismo foi a forma através da qual grande parte dos judeus encontrou para viver de forma independente e autônoma, algo que lhes foi negado no resto do mundo, e até hoje é dificultado em parte do globo. Vejam, por exemplo, esta notícia do ano de 2010: nos EUA, um dos países mais tolerantes com os judeus no mundo, o número de crimes contra judeus por intolerância religiosa foi de 887 em todo o ano, enquanto contra os muçulmanos foi de 107 (oito vezes menor). Se levarmos em conta que a população judaica nos EUA é aproximadamente o dobro da muçulmana, concluímos que há proporcionalmente mais que quatro vezes mais crimes contra judeus do que contra muçulmanos neste país.


Alguns alegam que o sionismo é por definição colonialista e racista, pois nega ao povo palestino o seu próprio direito de autodeterminação nacional. Isso não é verdade. Existem, sim, correntes dentro do sionismo, que negam aos palestinos este direito, mas que não possuem o monopólio do termo nem representam a maioria dos sionistas. O princípio libertador sobre o qual o sionismo foi criado, de fato, não combina com ocupação, com bombardeios, nem com colonização. Não combina com exploração, com restrição de direitos dos palestinos, nem com expansão de território às custas da expulsão de outro povo. Estes não são os princípios básicos do sionismo. Nunca foram. E não podem passar a ser.


Como disse Einstein em seu tempo, é correto ser a favor de um sionismo libertador, que dá direitos a um povo oprimido e lhe garante sobrevivência. Por outro lado, é necessário ser contra um outro sionismo, expansionista, colonizador e belicista. Opor-se à ideia sionista como um todo só ajuda a definir o sionismo como algo negativo, tirando força dos que lutam contra a opressão e a favor da liberdade dos povos. É necessário opor-se a estas práticas, não à ideia sionista, que na sua essência não tem absolutamente nada de racista, imperialista ou genocida, pelo contrário: opõe-se justamente a isso.

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Foto de capa: Forms part of: George Grantham Bain Collection (Library of Congress)

General information about the George Grantham Bain Collection is available at http://hdl.loc.gov/loc.pnp/pp.ggbain


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