Originalmente publicado em 30/05/2014, no Conexão Israel
(Foto de capa: "Judeus, acordem. Morte aos árabes. Vingança.")
Tag Mechir significa "Etiqueta de Preço". O termo se refere ao preço que se paga por determinadas condições e/ou atividades. Etiqueta de Preço é nome de um tipo de atividade ilegal e sem dono específico, relativamente novo em Israel. Trata-se de um dos fenômenos sociais mais tristes da história recente do país, que consiste basicamente em atividades violentas contra palestinos residentes sobretudo na Cisjordânia, mas pode estender-se também a ativistas de esquerda e árabes israelenses. O movimento ganhou fama internacional após a divulgação de grafites anti-cristãos há pouco mais de um mês, antecedendo a visita do Papa Francisco a Israel e preocupando a todos os que temem pela segurança do pontífice.
As atividades que constituem o "Tag Mechir" podem ir desde grafites de cunho racista (leia-se: antiárabe ou anti-islã) em muros até a depredação de casas e o ataque a civis. Já foram reportados bloqueio de estradas, profanação de mesquitas e igrejas, linchamentos e até mesmo a depredação de bases militares do Tzahal (Exército de Defesa de Israel) e delegacias de polícia.
Quem as pratica? Apesar de não conhecermos os nomes dos movimentos que as organizam (se é que há algum), sabemos que são atos realizados por segmentos da extrema direita israelense, na maioria das vezes, religiosa. A título de esclarecimento, caro leitor: não estou acusando a direita religiosa de tais atos. Estou afirmando que tais atos são efetuados por segmentos da direita religiosa. De forma alguma estou generalizando nem acusando uma corrente inteira por tais ações. Mas sabemos que tais atos vêm da direita. Como? Simples: os manifestantes fazem questão de deixar claro em seus grafites quem são. Repare nas fotos abaixo:
"Arábes são inimigos. Expulsar ou matar"
"Judeus esfaqueados não ficam se calam"
Além disto, as ações do Tag Mechir são, quase sempre, realizadas em forma de retaliação, ou a um atentado terrorista (ou tentativa), ou a um desmantelamento de uma colônia ilegal (por isso às vezes a polícia e o Tzahal são vítimas de tais atos), ou a qualquer outra ação social que seja considerada por tais elementos como uma afronta à sua forma de ver o mundo.
O movimento, infelizmente, tem crescido nos últimos tempos, provocando uma reação de membros do parlamento de quase todos os partidos. O estopim foram as ofensas anti-cristãs encontradas em igrejas em Jerusalém no dia 20 de abril ("Cristãos Macacos", "Jesus Filho da P…", "Jesus Morreu, "Te crucificaremos", entre outras), provavelmente como reação às declarações do Papa Francisco pedindo o retorno às negociações com os palestinos.
Como reação, a ministra da Justiça Tzipi Livni (HaTnua), junto ao ministro da Segurança Pública, Itzhak Aronovitch (Israel Nossa Casa), solicitaram que fosse promulgada uma declaração de emergência que considerasse atividades como Tag Mechir como terrorismo. Os dois obtiveram o apoio de outros parlamentares, como o líder da oposição Itzhak Herzog (Partido Trabalhista), além de importantes membros do judiciário e do Shabak (Serviço de Segurança Interna). O primeiro-ministro, Bibi Netanyahu, afirmou que o movimento Tag Mechir "fere os princípios do Estado", mas recusou-se a considerá-lo como terrorista. O ex-chefe do Shabak, Carmi Guilon creditou grande perigo ao movimento, ao afirmar que eles serão os responsáveis pelo próximo assassinato político. O ministro da Indústria e Comércio, Naftali Bennett (Yamina), publicou em sua página no Facebook que o "Tag Mechir é um ato antiético e antijudaico". Outros vários políticos manifestaram-se contrariamente às atividades, que realmente parecem preocupá-los.
Noar HaGvaot (Juventude das Colinas)
A declaração mais contundente, no entanto, foi feita pelo escritor Amos Oz, que os categorizou de forma distinta: "Tag Mechir e Juventude das Colinas* são doces apelidos para este monstro, e já chegou a hora de chamá-lo pelo nome: grupos de neonazistas hebreus". Obviamente houve reações, como a do parlamentar Reuven Rivlin (Likud), que não concorda que se possa fazer este tipo de comparações. O Tag Mechir ataca minorias, discriminando-as com alcunhas racistas e etnocêntricas. O Tag Mechir ataca a esquerda que as defende, tentando intimidar os defensores de direitos humanos. O Tag Mechir ataca a lei e os órgãos que têm o dever de cumpri-la, recusando-se a aceitar a democracia. É necessário que os discursos da liderança política no país que dizem de modo firme não concordar com tais ações consigam ser traduzidos rapidamente em ações práticas que tenham sucesso em frear este movimento com urgência. Não gostaria que esta “etiqueta de preço” evoluísse para uma tatuagem. Por enquanto, qualquer semelhança é mera coincidência."
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*Noar haGvaot - é um grupo surgido recentemente de jovens nacionalistas religiosos que atuam principalmente nos territórios ocupados, realizando atentados contra árabes-israelense, palestinos e suas propriedades particulares e mesquitas, além de condenar o uso de mão-de-obra palestina - considerada inferior. O nome do movimento advém do fato destes grupos criarem novos assentamentos sem autorização legal no topo de colinas. Em recente artigo no jornal Haaretz, a Juventude das Colinas foi comparada à Irmandade Muçulmana.
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Foto de capa retirado do site Wikipedia, de autoria de Oren Rozen (One Work). Fotografia de 31/01/2014.
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