Tradução livre do artigo de Raviv Druker ao Haaretz, 23/09/2024. Leia o original em hebraico aqui.
O racional dos tomadores de decisão em Israel para a série de ações tomadas recentemente é esta: não se pretendia normalizar a situação ou remover a ameaça, mas sim a forçar Hassan Nasrallah a cortar a relação feita entre Gaza e o Líbano no dia 08 de outubro. Que ele assine um acordo separado conosco, e ignore o fato de que não há um acordo de cessar-fogo em Gaza. Este é um objetivo justo e importante. Nas negociações que nós gostamos de fazer entre nós e nós mesmos , me parece que chegamos a um acordo. Pusimos força, fizemos uma operação de cair o queixo, estamos prontos para levantar da mesa e faturar com os feitos.
E se Nasrallah não estiver tão de acordo com o roteiro que escrevemos para ele, e devido aos fortes golpes que recebeu, ele também queira nos ferir e chegar à mesa de negociações em uma posição um pouco menos fraca? A capacidade de Nasrallah de nós ferir se encontra em uma situação relativamente frágil, ele não conta com milhares de combatentes feridos, nem com as habilidades de comando de Ibrahim Akil. O lançamento de mísseis pesados contra os centros das principais cidades de Israel mudaria a equação. Um ataque destes fará imediatamente uma forte pressão aos nossos tomadores de decisão, para “invadir”, “limpar”, “ocupar”, “conquistar”, palavras pelas quais somos apaixonados.
Nos nos lembramos muito bem como terminaram as últimas ações terrestres no Líbano. Uma complicação em Maron al-Ras, o sangramento em Bint Jbeil. Os últimos 18 anos mudaram completamente a equação do poder? Quem dera. As FDI demonstraram uma capacidade operativa terrestre impressionante em Gaza, mas também devemos lembrar sobre como operaram lá. Bombardeios insanos e um trabalho lento. Demorou muitas semanas até à ocupação de Beit Hanun, muito tempo até que ousássemos entrar por via terrestre, e não em veículos blindados. Não temos todo esse tempo agora, e as FDI não estão tão frescas como estavam no início da operação terrestre em Gaza.
O potencial de complicação aqui é enorme. Nas intenções de Benjamin Netanyahu não podemos confiar, como sabemos. Seus objetivos pessoais prevalecem sobre qualquer outra consideração. O ministro da Defesa, Yoav Galant tem sido uma grata surpresa nos últimos meses, mas, na situação absurda que surgiu, quando um substituto a ele está fazendo aquecimento para entrar, passa a ser também impossível confiar nas suas intenções. Para ele, terminar a guerra significa perder o emprego.
No início da Segunda Guerra do Líbano (2006), foi realizada uma operação espectacular, "Peso Especial", na qual foi destruída a maior parte da capacidade de mísseis de longo alcance do Hezbollah. Havia uma oportunidade extraordinária para dar um fim nisso, mas o sucesso pelo jeito embriagou os tomadores de decisão. A uma grande operação sequer foi discutida, e o apetite por chegar a uma solução minguou.
A “Operação dos Pagers”, supostamente, se deu pelo fato de estar prestes a ser exposta. Mas os benefícios significativos da operação também são acompanhados de danos consideráveis. Principalmente porque fez com que elementos libaneses que não são apoiantes do Hezbollah apoiassem uma resposta dura contra Israel. Se havia algum freio a Nasrallah nos últimos anos, estes eram relativos às limitações impostas pela opinião pública libanesa. Esta operação acabou sendo responsável pelo seu afrouxamento. E, no entanto, depois de a operação já ter sido concluída, esta é a oportunidade mais inteligente para Israel procurar rapidamente um acordo político. Nós atacamos, eles responderam, vamos terminar. Não voltemos ao erro de começar um confronto como foi a Segunda Guerra do Líbano.
Se aprendemos alguma coisa com a Segunda Guerra do Líbano, é que nos castigamos demais. Não compreendemos que, apesar de todos os fracassos absorvidos, os golpes infligidos ao Líbano deixaram uma cicatriz profunda no Hezbollah: uma cicatriz, em grande parte responsável por 18 anos de silêncio quase total. É provável que, mesmo que encerremos agora sem essa “normalização” impossível com o Hezbollah, Nasrallah seja dissuadido a atacar durante muitos anos.
Isto não é um fato, e ainda pode ser que alguns moradores do norte não queiram regressar às suas casas, mas este parece ser um cenário muito melhor do que todos os alternativos, certamente mais lógico do que uma operação terrestre no Líbano.
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