Após o atentado na Esplanada das Mesquitas no dia 14 desse mês que deixou dois policiais mortos além dos três terroristas, o governo israelense instalou detectores de metal em duas das nove entradas da Esplanada na cidade velha de Jerusalém que foram reabertas para o público (para mais informações ouça o podcast “Do Lado Esquerdo do Muro” sobre o atentado e os desdobramentos).
A reação das autoridades muçulmanas que controlam o local foi contundente. Nenhum muçulmano deveria entrar na Esplanada. A medida unilateral israelense gerou um tensionamento grande da população palestina muçulmana que não aceitou essa interferência do governo em seu local sagrado.
O local mais sagrado para os muçulmanos na região estava sendo boicotado pelos próprios muçulmanos em função da intransigência do governo israelense em não tirar os detectores de metais. As tensões cresceram, obviamente. A queda de braço começa.
Nos dias seguintes à instalação dos detectores, confrontos entre forças de segurança e palestinos ocorreram nos bairros palestinos no entorno da Cidade Velha. Silwan, A-Tur e Wadi Joz, Ras al-Amud, Abu Dis, foram palcos de violência.
Bibi não estava em Israel. Fazia um tour pela França e Hungria enquanto a lenha esquentava na fogueira. O serviço interno de segurança (Shin Bet) e o exército aconselharam a retirada dos detectores e já se preparavam para o início de uma onda de violência. Os detectores não valem um novo derramamento de sangue. Bibi volta de viagem na quinta feira, dia 20, e, imediatamente, se encontra com seu gabinete. Apesar da orientação dos serviços de segurança, decide pela manutenção dos detectores.
O cenário está pronto. Sexta-feira, dia santo e de orações para os muçulmanos, chega. A polícia fecha a Cidade Velha de Jerusalém para homens com menos de 50 anos. Dezenas de milhares de palestinos rezam pelas ruas de Jerusalém.
Após as orações os confrontos acontecem. Os dois lados se acusam de ter iniciado o conflito. Já o início da violência é outra história. Bombas de efeito moral são jogadas para dispersar a multidão. Três palestinos são mortos em Jerusalém oriental. Um deles é morto por um colono que vive em um assentamento ilegal no bairro de Silwam.
O clima é tenso.
No início da noite, um jovem palestino de 19 anos entra no assentamento judaico de Halamish, ao norte de Ramallah, e comete um atentado terrorista. Mata uma família inteira. O pai de de 70 anos, sua filha de 46 e seu filho de 36, morrem. A mãe de 68, está internada.
Pouco mais de uma hora antes de assassinar uma família inteira, o jovem palestino escreve no facebook: “Estou escrevendo minha vontade e estas são as minhas últimas palavras. Sou jovem, ainda não atingi a idade de 20 anos, tenho muitos sonhos e aspirações" (...) "Mas que vida é essa, em que eles matam nossas esposas e a nossa juventude sem qualquer justificação? Eles profanam a mesquita de Al-Aqsa e estamos adormecidos, é uma desgraça e nós sentamos passivamente”.(trechos do post).
Os detectores de metais não são o centro da questão. O centro da questão é controle e soberania. A política irresponsável e piromaníaca do governo israelense conseguiu o que parecia impossível de se conseguir nos dias de hoje. Unificar o povo palestino em torno de um único grito, de um único símbolo. Ninguém consegue criar um governo de coalizão palestino. Fatah e Hamas não se entendem. Há anos que não vemos manifestações populares forte e organizadas contra a ocupação, mas Bibi e seu governo de extrema direita conseguiram. Al-Aqsa quase se tornou, mais uma vez, a gota dágua para uma nova intifada.
Todos sabiam, Bibi. Você sabia. O Shin Bet e o exército avisaram. Mas te importa mais ficar no poder, alguns votos. Se esquiva de responsabilidade de evitar a escalada de violência. Que deus tenha misericórdia de você.
Artigo publicado em 25 de julho de 2017
Foto - Papierdrache, CC BY-SA 3.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0>, via Wikimedia Commons
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