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Afaste de mim esse cálice


Em meu penúltimo texto aqui no Conexão Israel apontei alguns fatos da chamada “única democracia do Oriente Médio”. O crescimento do racismo contra a população palestina que mora em Israel e, obviamente, também contra a população palestina que mora nos territórios ocupados. Já acho extremamente complicado separar o que acontece em Israel e na Palestina ocupada.


Como podemos dizer que Israel é um país democrático e ao mesmo tempo ocupar o território palestino e oprimir sua população? Mas, se por um lado o status quo permite que muitos façam essa distinção, por outro, o lado “democrático da atuação israelense na Palestina” ganha mais espaço dentro de Israel. Em abril, enquanto todos nos lembravam da proximidade do dia em memória as vítimas do Holocausto, o dia em memória aos soldados mortos em guerras e vítimas de terrorismo, e o Dia da Independência, a Suprema Corte israelense aprova mais uma lei mostrando que está ficando cada vez mais difícil manter esse rótulo de “única democracia do Oriente Médio”.


Pelo mundo afora vêm ganhando força um movimento chamado BDS (boycott, divestment and sanctions - boicote, desinvestimento e sanções). O movimento vem construindo internacionalmente uma política de boicote a Israel para pressionar o país a resolver o conflito com os palestinos. Obviamente o argumento de que são todos antissemitas é altamente utilizado contra esse movimento e seus apoiadores. Contudo, há também apoiadores em Israel que para além de antissemitas (!!!) também são acusados de traição.


Há mais de um ano escrevi também um artigo no qual pretendia levantar o debate sobre esse tipo de política de pressão, como a África do Sul sofreu contra o apartheid, e o Irã recentemente, por conta do seu programa nuclear. Mas agora a democracia Israelense mostrou sua for(ça)(ca). O Supremo Tribunal de Justiça aprovou uma lei que permite que qualquer pessoa ou movimento em qualquer lugar do mundo que defenda o boicote à Israel, seja ele econômico, cultural ou acadêmico, possa ser processada por perdas e danos. Ou seja, criminaliza-se uma opinião diferente.


Essa lei foi aprovada pelo parlamento em 2011, e ficou por todo esse período sendo analizada e julgada até sua aprovação no último dia 15 de abril. Obviamente o governo tenta impor algumas perdas financeiras ao BDS e seus apoiadores, mas quem mais perde é a oposição dentro de Israel que fica impedida de defender qualquer politica de boicote, mesmo que seja somente ao que for produzido nos territórios ocupados. ONG´s que se opõem à ocupação e defendem o boicote ficarão impedidas de manter o seu discurso, pois, caso processadas e condenadas, serão impedidas de sustentar-se economicamente.


Querem calar os opositores e fingem que nada está acontecendo. Mantém-se uma politica de ocupação e repressão nos territórios palestinos e impedem que opositores em Israel e por todo o mundo busquem armas legítimas no combate à ocupação. Isso não é democracia. Talvez no fundo seja isso, as democracias liberais, tão orgulhosas de si mesmas, que adoram impor seus modelos democráticos às chamadas “culturas inferiores”, sempre acabam por mostrar seus curtos limites. Dentro e fora das suas fronteiras nacionais.


Artigo publicado em 03 de junho de 2015



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