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Abu Mazen saiu do armário?




Originalmente publicado em 04/05/2018, no Conexão Israel


O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas (conhecido em Israel como Abu Mazen), chocou o mundo nesta segunda-feira, com declarações negacionistas, com graves erros históricos e ofensivas ao povo judeu. Em outras palavras, declarações antissemitas, imperdoáveis. A mídia brasileira pouco noticiou o caso, mas alguns órgãos, sobretudo após críticas de líderes europeus, decidiram transformar o caso em notícia (ainda que com manchetes patéticas, como essa na matéria da Folha. Foi realmente um absurdo, algo que não se vê nem mesmo nos discursos mais “inspirados” de líderes do Hamas.


Abu Mazen, em discurso no Conselho Nacional Palestino, afirmou que Israel era um projeto colonial europeu sem legitimidade para existir, negando aos judeus - e só aos judeus - o direito de autodeterminar-se como uma nação. Reduz o sionismo, movimento histórico e revolucionário do povo judeu, a uma reles estratégia das potências europeias para controlar o Oriente Médio. Como se não bastasse, diz que a história não justifica a aspiração judaica à Terra de Israel, pois, para ele, os judeus ashkenazitas são descendentes dos cazares, um povo que habitava o Cáucaso na Idade Média, e cuja família real se converteu ao judaísmo no século IX. Somente historiadores desonestos ou ignorantes teriam feito tal afirmação. No caso de Abu Mazen, foi desonestidade mesmo, pois a máxima foi proferida dentro de um discurso político. O problema é que não é verdadeira a afirmação.


Como se não fosse suficiente, Abbas também disse que o Holocausto, tal qual as perseguições sofridas pelos judeus ao longo dos anos desde o século XI, não se deram por conta de sua religião ou por questões étnicas, mas sim por “sua função social ligada à usura e à banca”. E ainda afirma, erroneamente, que os judeus nos países árabes, por não desempenhar tal função, não foram perseguidos. Abu Mazen, então, justifica a perseguição aos judeus, pois caso não tivessem se dedicado a “profissões equivocadas”, não teriam sido perseguidos. O erro, nesse caso, é duplo: os judeus sim foram perseguidos por conta de suas crenças religiosas em vários momentos da história, inclusive (embora em menor escala) nos países árabes. No caso do Holocausto, a razão era étnica: até mesmo netos de judeus eram assassinados. Patético afirmar que os seis milhões de assassinados eram banqueiros ou usurários.


A cereja do bolo foi quando Abu Mazen afirmou que Hitler desejava que a “nação sionista” fosse criada na Palestina, pois lhe seria útil. Não surpreenderia ninguém caso estas afirmações tivessem sido feitas nos anos 1980, quando Abu Mazen escreveu sua dissertação de mestrado. Abbas já havia dito que menos de um milhão de judeus morreram na guerra, e que os sionistas trabalharam em conjunto com Hitler. Em 2014, no entanto, ele condenou o Holocausto, considerando-o “o crime mais atroz contra a humanidade na era moderna”, e parecia haver renunciado à sua tese. Abu Mazen vinha em uma direção mais moderada, tendo admitido que jamais voltaria a Safed, cidade onde nasceu, dando a entender que poderia renunciar ao direito de retorno de parte dos refugiados palestinos, algo que jamais será aceito por Israel. Apesar de ter sido acusado por Netanyahu de incitar o terrorismo, chefes do serviço secreto israelense sempre negaram sua participação de qualquer forma, como eu já escrevi anteriormente. Por isso, de certa maneira, o discurso de Abu Mazen surpreende.


Não posso dizer se Abu Mazen realmente acredita no que disse, ou se em algum momento deixou de acreditar nesses absurdos que o caracterizam como antissemita. Pode ser que, no fim de sua vida, esteja querendo agradar os radicais palestinos. Ou talvez, no apagar das luzes de seu mandato, decidiu chutar a política para escanteio e disse realmente o que pensa. Espero que ele não acredite nos absurdos que disse.


Eu sou daqueles que crê que a paz se faz com inimigos, e devemos aceitar o fato de que, como sionistas, não vamos estar de acordo com a grande maioria das demandas do líder palestino. Também por isso as negociações são tão complicadas. No entanto, há um limite. Quando o presidente da Autoridade Palestina deslegitima o direito dos judeus à autodeterminação nacional, temos um grande problema. Quando Abu Mazen frauda a história para justificar herança genética do povo judeu, temos uma questão muito grave. Quando o representante máximo dos palestinos, grande formador de opinião, relativiza o crime dos nazistas e nega o Holocausto, torna-se impossível o diálogo. Abu Mazen precisa voltar atrás e desculpar-se pelo que disse. Deveria pedir perdão não só aos judeus, aos sobreviventes do Holocausto, mas também à população mundial, pela tentativa patética de manipulação de informação e fraude histórica. E deveria, igualmente, renunciar. São quase 15 anos no poder, e nenhum avanço real. Nenhuma proposta de paz foi feita pela liderança palestina. Nada! Se criticamos tanto Netanyahu por dar mil voltas e enganar a população, por negar o que afirmou um dia antes de forma rotineira, e por jamais ter feito qualquer proposta de solução para o conflito desde que entrou para a política, devemos ser exigentes com Abu Mazen. Ele não governa o meu país, e, portanto, obviamente não me representa. Espero que deixe de representar o povo palestino também.

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