Conforme já discutido por alguns colegas do Conexão, poderíamos desenvolver diversas teses sobre de quem seria a culpa pelo sequestro dos três jovens israelenses quando pegavam carona em um cruzamento na região do bloco de assentamentos chamado Gush Etzion. Cabe notar que o sequestro ocorreu 15km ao sul de Jerusalém, dentro da área C, ou seja, controle administrativo e militar israelenses.
Contudo, quase todas as teses poderiam ser desfeitas se não vivêssemos com a realidade da ocupação. Podemos dizer que sem a ocupação o sequestro nao teria acontecido? Não, não poderíamos. O governo israelense acusou imediatamente o Hamas pelo acontecido sem, até hoje, apresentar provas do envolvimento do grupo terrorista. A suspeita não se confirma e apesar da prisão de mais de 200 membros dessa organização, não ha nenhum sinal de onde os meninos se encontram.
Assim, podemos dizer que a culpa do sequestro é do extremismo. O extremismo palestino de grupos fundamentalistas que acham que a forma mais eficaz de acabar com a ocupação é através da violência. Mas também do extremismo israelense, que quer manter a ocupação e que se recusa a negociar com as lideranças palestinas, que vêem a diplomacia como a via correta de se acabar com o conflito.
Mas para que serve apontar culpado? Águas passadas não movem moinho.
A história que mais se repete em mais de 100 anos de conflito são as inúmeras tentativas de culpar sempre um lado e achar um bandido e um mocinho para os eventos. Não podemos mais repetir esses erros. Chega. Basta.
Após o sequestro, Abu Mazen faz um discurso em árabe que nunca havia sido feito anteriormente por um líder palestino. Clama pela libertação dos meninos e diz que eles são seres humanos, como todos nós. Qual a resposta do governo de Israel a esse discurso? Nenhuma. Bibi disse que após o final da operação irá avaliar a atuação da Autoridade Palestina e então ver se é possível voltar às negociações. Bibi mantém a sua postura arrogante de não negociar com quem está disposto a conversar e não utilizar armas.
Derrotar o extremismo e o fundamentalismo é tarefa de todos que querem viver em um mundo melhor, com menos violência. Derrotar o extremismo é fortalecer quem defende direitos humanos, quem entende que a violência não vai levar a lugar nenhum.
Porém a derrota do extremismo vem acompanhada e anda lado a lado com o fim da ocupação. A política de ocupação, extremismo e intolerância, caminham juntas, são parasitas, ou seja, se alimentam uma da outra.
A única forma de se aventar o fim de agressões do lado palestino é acabar com a agressão da ocupação israelense e possibilitar que o povo palestino busque a sua liberdade através da emancipação nacional, como os judeus vêm buscando desde 1948.
Artigo publicado em 15 de junho de 2014
Comments