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A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena


O fim da missão militar israelense para resgatar os três jovens sequestrados na região de assentamentos de Gush Etzion, ao sul de Jerusalém, revelou o que muitos esperavam, mas não queriam acreditar: os três foram mortos pelos terroristas.


O clima no país tem sido de muita comoção, o mesmo que toma conta de todos quando um ato terrorista é perpretado. Em diversas cidades, pessoas comuns, sem nenhuma relação entre si, se juntaram em praças e rezaram pela alma dos jovens que, ao que tudo indica, foram mortos a tiros antes de terem seus corpos queimados.


O governo israelense disse que manterá parte da missão até que os assassinos (que já foram identificados) sejam achados. Além disso, mantém a linha política de destruição total do Hamas (pelo menos na Cisjordânia).


O gabinete está dividido sobre a violência da resposta. Há setores mais moderados que defendem a guerra ao Hamas e setores mais radicais que defendem uma política mais agressiva. A discussão é que essa política poderia levar ao descontrole da Cisjordânia, situação que o governo israelense quer evitar.


O que temos visto nas redes sociais é uma conclamação à violência, à vingança, perpetuando preconceitos e estimulando a separação entre judeus e árabes.


Hoje em Jerusalém foram registrados casos de violência de judeus contra árabes em uma manifestação organizada por movimentos de direita na entrada da cidade.


O momento é triste, tenso e pode levar a um cenário muito pior.


O que fazer então?


A dor é indescritível e a perda é mais sentida pelo fato de que a morte deixou de ser uma realidade incomum no lado judaico-israelense do conflito. No último ano este é o terceiro atentado, totalizando 5 mortes. Os dois outros mortos foram um soldado e um policial.


Não é momento para exigirmos vingança. Nunca é momento para exigirmos vingança. A história do conflito palestino-isralense é cheia de vinganças e o banho de sangue não pára. A vingança pode ter sido um dos sentimentos que fizeram com que os terroristas sequestrassem os jovens.

Hoje, em mais um dia triste na região, devemos clamar por calma. Temos o dever de sermos racionais, de nos diferenciarmos mais ainda dos terroristas. Não podemos espalhar palavras de ódio, racistas, que ocasionarão em uma fragmentação social ainda maior, dentro de Israel e entre Israel e a Palestina. Não podemos incitar e nem exigir dos governantes que tomem medidas desproporcionais que poderão causar a morte de mais inocentes.


Devemos, sim, exigir o fim do terrorismo, bem como exigir de todas as autoridades envolvidas que se empenhem nisso de forma verdadeira e busquem a construção de uma política profunda de paz, que não envolva somente a definição de fronteiras, mas que permita a difícil cicatrização de feridas.


Israel por um período utilizou uma política de “caça aos líderes” do Hamas. Não funcionou. É fundamental que se acabe com as estruturas do Hamas e isso só será possível através da via diplomática, fortalecendo o Fatah e isolando o grupo terrorista.


As recentes ações militares de Israel tiveram como consequência o fortalecimento do grupo terrorista e o aumento no número de grupos radicais que não respondem ao Hamas. Além disso, políticas de retaliação e de punição coletiva só servirão para dificultar um processo de paz, como mostrado em recente pesquisa de opinião realizada poucos dias após o sequestro no início da operação militar israelense.


Precisamos construir uma relação de confiança entre os povos que é impossível através das armas e da violência. É fundamental que conversemos. Temos que escutar a quem tem algo a dizer e isso só é possível com o fortalecimento da democracia em Israel e na Palestina. Israel precisa ser uma alternativa viável ao Hamas.


Os mais de 10 milhões de habitantes que residem em Israel e Palestina deverão fazer concessões dolorosas para que isso aconteça. TODOS deverão ceder. Temos que saber se cada um de nós está pronto para isso.


Hoje, mais do que nunca, é fundamental que lembremos do maior ensinamento da cultura judaica:


Ame ao próximo como a si mesmo - וְאָהַבְתָּ לְרֵעֲךָ כָּמוֹךָ


Artigo publicado em 04 de julho de 2014


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