Tradução livre do artigo de Jack Khoury, publicado no Haaretz em 08/03/2017 (http://www.haaretz.co.il/news/politics/1.3916762)
Originalmente publicado em 10/03/2017, no Conexão Israel
Abaixo do artigo o leitor encontrará um parágrafo com a opinião do tradutor.
A nova plataforma do Hamas: Reconhecer a Palestina nos territórios de 1967 e desconexão ideológica à Irmandade Muçulmana
A nova plataforma da organização revisará sua posição, redigida pela última vez em 1988 (durante seu primeiro ano de existência). Ela recapitulará posições representadas por oficiais da organização nos últimos anos. Entre outras coisas, a plataforma deve incluir a luta pacífica e definir a ocupação como inimiga—e não os judeus.
O Hamas deverá divulgar nas próximas semanas sua nova plataforma política—a primeira desde 1988—, na qual deverá aceitar a proposta de criação de um Estado palestino nas fronteiras de 1967 sem reconhecer o Estado de Israel, declarará sua independência em relação à Irmandade Muçulmana, e reconhecerá a luta contra Israel como uma luta contra a ocupação e não contra os judeus. Além disso, é esperado que a plataforma reconheça a luta popular e não violenta contra a ocupação como arma legítima, junto à luta armada.
A plataforma será publicada após o movimento eleger seu próximo lider, o presidente do seu braço político. Segundo as avaliações, o ex-líder do Hamas em Gaza, Ismail Haniya, deverá ser o sucessor de Khaled Mashal. Para o cargo de presidente do movimento na Faixa de Gaza, foi eleito no mês passado Yahya Sinwar, sênior do braço militar da organização.
O Hamas muda a pauta
Uma fonte do braço político do Hamas na Faixa de Gaza disse ao Haaretz que o documento definirá posições e princípios já definidos por representantes do Hamas nos últimos anos, entre outras coisas, em conversas de reconciliação com o Fatah, e em outros encontros com o Egito e outros países árabes. Em suas palavras, “quem segue o que diz Khaled Mashal não se deparará com nada distinto. A plataforma será como uma carteira de identidade do movimento, após algumas mudanças na região e no campo palestino nos últimos anos”.
A publicação da nova pauta deve auxiliar o Hamas nas suas relações com a comunidade internacional e com os países árabes. Neste estágio não é claro o quão o Hamas está interessado em dar fim à sua divisão com a Autoridade Palestina e o Fatah, mas possivelmente o reconhecimento de um Estado palestino nas fronteiras de 1967 sirva como base para um acordo nacional palestino.
Nesta quarta-feira foi divulgado no jornal londrino Ashark Al-Awsat que o Hamas deve declarar a sua independência de qualquer organização, entre outras da Irmandade Muçulmana. Na convenção do Hamas—o documento político fundador do movimento, redigido há 29 anos—o Hamas se define como um ramo da Irmandade Muçulmana. A desconexão oficial em relação à Irmandade Muçulmana deverá ajudar o Hamas a chegar a um acordo com o governo egípcio, que pôs a Irmandade Muçulmana na ilegalidade no país.
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A nova plataforma do Hamas ainda não foi divulgada, e informações oriundas de fontes anônimas são sempre questionáveis. Igualmente questionável é a mudança na prática do grupo frente a Israel: reconhecer ações não violentas como parte de sua estratégia não significa renunciar à luta armada, não parece haver contestação. Da mesma maneira que reconhecer o Estado palestino nas fronteiras de 1967 não elimina a luta por um objetivo final, o de “libertar todo o território do sionismo”. No entanto, caso as mudanças apontadas nesta plataforma sejam verdadeiras, isso direciona uma alteração no foco do Hamas. Mesmo que simbólico, direcionar o movimento à ações não-violentas e reconhecer o Estado palestino nas fronteiras de 1967 pode representar um início de uma nova política. As mudanças em grupos políticos-ideológicos não se dão de uma hora para a outra, são processuais. O Fatah também levou duas décadas até reconhecer o Estado de Israel e, embora até hoje não tenha renunciado oficialmente à luta armada, já não realiza mais atentados terroristas há vários anos. Portanto, confirmadas estas mudanças na plataforma do Hamas, há chance para o otimismo—ainda que a longo prazo.
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