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A história não perdoará essa covardia


*Por Gil Mildar


Netanyahu é o cúmulo do desprezo humano, um déspota calculista que manipula a tragédia alheia como se fosse um jogo político sem fim. Ele transformou o país em um laboratório de cinismo, onde o sofrimento é destilado gota a gota para sustentar a narrativa podre de um regime que só sobrevive à custa do desespero dos seus próprios cidadãos. Estamos diante de uma figura cuja insensibilidade não conhece limites, que se vale da dor coletiva para cimentar seu domínio sobre uma nação que, de tanto sangrar, já mal consegue distinguir o inimigo verdadeiro. E o maior inimigo de Israel hoje não está em Gaza ou em Teerã – ele se esconde por trás do paletó caro e da retórica patriótica vazia de Netanyahu.


Cada morte, cada lágrima, cada grito de agonia é cuidadosamente embalado e vendido como um "sacrifício necessário" por um governo que abandonou qualquer traço de decência. Não se trata mais de incompetência; estamos falando de uma gestão criminosa, que deliberadamente prolonga o conflito, que transforma a dor das famílias em moeda política e que opera com a frieza de um sociopata. Netanyahu não é um líder – é um parasita que se alimenta do caos que ele próprio fomenta. Ele prospera na destruição, porque cada nova explosão, cada funeral silencioso, lhe dá mais um dia de poder, mais uma oportunidade de desviar a atenção dos seus próprios crimes.


O cálculo político aqui é claro: enquanto houver guerra, ele reina. E para isso, ele sacrificaria todos os reféns, todos os civis, todos os soldados, porque no seu mundo retorcido, vidas humanas são fichas descartáveis num cassino político onde a única coisa que importa é ele próprio. Ele veste a máscara de defensor de Israel, mas o que ele realmente defende é o seu próprio couro. Ele não luta pela segurança do povo; ele luta pela segurança do seu assento no poder. E o preço dessa ambição desmedida é pago com o sangue e o futuro de uma nação inteira.


A tática é tão repugnante quanto transparente: manter o país num estado de terror perpétuo, onde o medo substitui a razão e onde qualquer tentativa de questionar a liderança é taxada de traição. Netanyahu sabe que a única forma de continuar governando é através da perpetuação do caos, e para isso ele não hesita em jogar gasolina em todas as brasas que consegue encontrar. Ele deliberadamente enfraquece o país, alimenta a polarização, esmaga qualquer tentativa de diálogo ou reconciliação. Ele não quer paz – a paz seria a sua ruína. Ele quer guerra, conflito eterno, porque é na destruição que ele construiu seu império político.


Netanyahu é a encarnação do oportunismo cruel, alguém que transforma funerais em palanque, que se aproveita do luto para desviar a atenção dos seus próprios escândalos. O país está afundando em lágrimas, mas ele, seguro em sua bolha de poder, só se preocupa em encontrar mais uma maneira de dividir, manipular e manter seu controle. Ele conseguiu, através de uma campanha contínua de desinformação e medo, converter uma população cansada em cúmplices silenciosos de sua própria degradação. E enquanto isso, ele se mantém firme, um ditador disfarçado de democrata, sorrindo cinicamente enquanto o país queima ao seu redor.


É revoltante, mas pior ainda é a resignação que se espalha pelo país. A exaustão generalizada não é uma coincidência – é uma estratégia deliberada. Netanyahu esmaga o espírito de resistência com o peso do cansaço, garantindo que qualquer movimento de oposição se dissipe antes mesmo de começar. Ele quer um país em transe, anestesiado pela dor constante, incapaz de reagir enquanto ele destrói o futuro de Israel em troca de mais alguns anos no poder. Ele prefere um Israel destruído a perder o controle – e essa é a verdade nua e crua que poucos têm coragem de admitir.


Estamos diante de um líder que não só falhou, mas que ativamente torpedeia qualquer esperança de salvação. Ele transformou o governo num bunker de paranoia, onde o inimigo externo é sempre menos importante do que os críticos internos. Sob seu comando, a guerra se tornou uma constante, e a paz, uma ameaça. Israel se tornou refém não de forças estrangeiras, mas de uma liderança que abraçou o colapso moral como estratégia de sobrevivência.


E essa é a verdadeira tragédia: Netanyahu não está apenas destruindo o presente, ele está comprometendo o futuro. Cada dia que ele se mantém no poder é mais um prego no caixão daquilo que Israel deveria ser – uma nação de justiça, de humanidade, de valores. Ele rasgou qualquer vestígio de dignidade que ainda restava, e no seu lugar colocou um regime baseado no medo, no ódio e na divisão. Não há mais desculpas para quem o apoia – o que estamos vendo não é um erro, mas uma escolha consciente de abraçar a tirania em nome da estabilidade falsa. E a história não perdoará essa covardia.


O que resta agora é uma pergunta crucial: quanto tempo mais o povo de Israel vai tolerar ser usado como escudo humano para a ambição insaciável de um homem que não tem nada a oferecer além de mais sangue, mais dor e mais desespero? Porque enquanto Netanyahu se mantiver no poder, a única certeza é que a guerra continuará – não porque seja necessária, mas porque ela é a chave do seu reinado.


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*Gil Mildar, judeu, israelense, latino e humanista. Com raízes brasileiras e um coração dividido entre as culturas, vive em um kibutz perto de Beit Shean


Benjamin Netanyahu, Prime Minister of Israel at the Annual Meeting 2018 of the World Economic Forum in Davosat the Annual Meeting 2018 of the World Economic Forum in Davos, January 25, 2018. Copyright by World Economic Forum / Valeriano Di Domenico


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